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7 de Setembro: a Dependência do Golpe

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card artigo Mauricio Falavigna

Auri-verde pendão da minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as divinas promessas da esperança…
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis à lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!

(Castro Alves)

Ele usou as redes sociais como armamento bélico. Ele procurou armar fatias da população. Ele deu atenção e privilegiou polícias e mílícias, grupos de homicídios legalizados. Ele colocou em pauta debates que puseram em dúvida as bases racionais sobre as quais nossa sociedade foi erguida. Ele questionou valores pétreos, caros à solidariedade entre as gentes e aos Direitos Humanos. Ele sabia da falta de solidez das instituições democráticas e da república – e jogou uma pá de cal sobre cada edifício mal construído. Ele espalhou o medo e a insegurança pela sociedade. E, em tudo, foi bem sucedido.

Hoje se aguarda, como no intervalo para o último ato, o momento do golpe. O que seria, ninguém explica. Afinal, o golpe foi dado lá atrás, com a Lava Jato e o impeachment. E os militares já estão no poder. Sua presença é maior do que no “movimento de 64” ou na “Ditabranda”, como o classificam o STF e a mídia. É verdade que juízes e senadores parecem ter abandonado a completa subserviência, afinal, há uma eleição na agenda. E é o pleito que parece assombrar o governo.

As Forças Armadas jamais quiseram um verdadeiro golpe, ele já foi dado. As elites tomaram o poder sem espaço de respiro para o restante da sociedade. O Brasil produziu mais 42 bilionários e voltou ao Mapa da Fome, isso já dá a medida da eficiência deste governo. Não é à toa que Paulo Guedes afirmou esta semana que a economia “está decolando”. No entanto, seus financiadores são ingratos e já colocam sua imagem ao lado do outro bode obscurantista, o que ocupa o Planalto.

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Não é o Golpe que o fascismo ambiciona, mas a Guerra. Uma guerra permanente, que garanta a disseminação do medo e do ódio na sociedade. A cada mês cria-se uma data, um “é agora” paira como espectro sobre boa parte da população. Nada tem sentido, mas funciona. A efeméride da vez é o 7 de Setembro. Boa parte da população – com acesso às informações, o que é mais preocupante – teme que o dia 8 seja diferente. E alguns teimam em carregar uma bandeira que nada mais significa: nem a união em torno de um País, nem valores de identidade, nem a Independência.

A guerra pela eternidade é um projeto de poder. Porém, os tradicionalismos não se sustentam. Mantêm a mesma porcentagem da população, variam entre 20 e 25%. E tendem a diminuir. O único apoio que a parte mais fanática pelos ideias fascistas encontra é quando afaga o lucro de quem realmente manda. Assim, perde paulatinamente o apoio do Centrão e do agronegócio quando afasta os chineses. Perde o apoio de investidores quando estes enxergam a demora da vacinação como empecilho à retomada da produção. Perde, por consequência, apoio do mercado financeiro e dos bancos.

E não consegue cooptar todas as correntes militares, se é que há correntes, já que estas correm risco de perder a boquinha pública que (muito mais que disputas ideológicas internas, embora haja quem acredite nisso) garante salários acumulados, cargos sem trabalho, privilégios e acesso a negociatas. As baionetas saem do estofado das cadeiras do STF, que passa a enfrentar o dragão com fumos de heroísmo e santidade. A mídia passa a engendrar outro candidato ou outra farsa legal que impeça Lula e o PT de voltarem ao poder.

A superação do nosso momento só se dará quando ultrapassarmos algumas condições entre dominantes e dominados, como em qualquer outro momento histórico. Os interesses materiais irão definir nossa vida não só em setembro, mas nos meses seguintes. O único elemento político que pesa na balança é a eleição de 2022, e não a possibilidade de impeachment.

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Ela é a ameaça para o fascismo, a esperança de trabalhadores e excluídos sem consciência de classe e seus representantes, o espaço de tempo para os verdadeiros donos do poder elaborarem jogadas para se manterem no governo sem o clima desagradável gerado por seus atuais eleitos. As ruas, por mais chamadas que ocorram, não pesam mais que pesquisas de opinião, graças a uma oposição dividida e, em muitos aspectos, falsa, artificial, construída pela mídia.

Talvez haja uma demonstração de força. Em algum momento, dia 7 ou 8 ou 9 ou qualquer outro. Afinal, eles têm armas. Mas os interesses materiais das elites já não estão com o presidente. Ele joga com o medo da justiça social, da distribuição de renda, da ausência de uma escrava para dormir no serviço ou com a ameaça de um pau de arara estar ao seu lado no avião. Mas, se houver violência, é porque o poder realmente se esvaziou. Se não houver, a guerra continuará da mesma forma.

O medo é construído, mas a luta é por 2022, que pode não ocorrer ou ser uma farsa igual a das últimas eleições. Já estamos sob o golpe e, quanto ao 7 de Setembro, a pantomima de um putsch é a mesma da nossa Independência. No dia seguinte, o drama continuará. Que o Senhor Deus dos Desgraçados olhe por nós uma só vez.